[Resenha] Maldito Sertão em Quadrinhos

O imaginário popular no Nordeste brasileiro é repleto de causos de horror. Maldito Sertão em Quadrinhos (2016) resgata muitas dessas histórias que povoam o imaginário da região. A publicação, uma adaptação do livro de Márcio Benjamin, é composta por oito contos de terror relacionados a lendas populares relativas ao folclore e religiosidade.

Maldito Sertão reúne contos de terror baseados em livro de Márcio Benjamin.

Casa de Fazenda (Roteiro e arte de Mario Rasec) narra uma maldição que se abate sobre uma família do interior. A narrativa funciona bem tanto do ponto de vista gráfico quanto textual. Em A Mata, Rasec conta a história de uma temida criatura que espreita na floresta, à espera de vítimas, e causa um profundo temor entre os homens do local. Todo o terror é apenas sugerido, mas o temor expressado pelos personagens confere muita credibilidade à ameaça. Em ambas a arte de Rasec é eficiente ao representar os personagens como tipos comuns que fogem de figuras idealizadas comuns nas HQs.

O oratório apresenta uma família que passava por dificuldades financeiras e brigas conjugais, os problemas são resolvidos de um modo misterioso e a solução é seguida da aparição de uma figura sinistra. O roteiro de Renato Medeiros ganha um tom de fábula graças ao traço quase infantil de Cristal Moura.

A Sombra da Cruz reconta a lenda da mula sem cabeça, retratada como uma mulher que busca vingança após ser seduzida e abandonada por um padre. O roteiro de Renato Medeiros confere uma sofisticação à lenda, enquanto Rodrigo Xavier ilustra o conto com um traço acadêmico e um eficaz uso de contraste.

Em A gruta, Leander Moura expõe, em apenas uma página, um conto narrado utilizando apenas a linguagem visual. Uma arte expressiva, um forte contraste obtido através do jogo de luz e sombra, além de uma diagramação arrojada composta por quadros que alternam os ângulos de perspectiva, são elementos que ajudam a ilustrar o enredo proposto de modo único.

Fome Materna (escrita por Rasec e desenhada por Leander) nos leva a um macabro relato movido por uma distorcida relação entre mãe e filho, que nos mostra o quanto um relacionamento doentio no seio familiar pode levar a sérias psicopatologias.

Em Rio Abaixo, Moura constrói uma narrativa metalinguística; enquanto em A procissão do senhor morto, de Renato Medeiros, traz a arte mais diferente da edição e mistura terror e religião. Em BR 101, Rasec apresenta a trama que envolve o trecho de uma rodovia habitado por fantasmas que surgem como prenúncios de tragédias.

Feita por profissionais de qualidade que entendem da linguagem dos quadrinhos e como empregá-la para contar boas histórias, a revista consiste em uma leitura agradável. Os contos sobrenaturais narrados fazem o que um bom relato de horror deve cumprir: gerar tensão por meio de uma narrativa cadenciada, que desperta crescente curiosidade até seu sinistro clímax.

O terror é um dos mais clássicos gêneros dos quadrinhos e no Rio Grande do Norte ainda foi pouco explorado. Nos últimos anos é crescente produção de quadrinhos do gênero e Maldito Sertão em Quadrinhos é um bom exemplar que se enquadra neste nicho.

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