José Evaldo de Oliveira nasceu em Areia Branca, no ano de 1938, e mudou-se para Natal quatro anos depois. Foi nesse período que descobriu a paixão pela arte de desenhar. Aos cinco anos ganhou um concurso de desenho no bairro em que morava e foi premiado com um saco de bombons. Durante a adolescência, continuou a desenvolver sua habilidade e, aos 15 anos, foi premiado em segundo lugar numa exposição coletiva, realizada em Natal, em que apresentou uma pintura a óleo.

“Minha influência na HQ foi Harold Foster, autor do Príncipe Valente. Nas ilustrações à guache e aquarela, foi José Luiz Benício. A minha leitura preferida nas HQ era a de Terror. Isso também me influenciou para a execução dos roteiros do gênero, tais como Drácula, o Lobisomem, Frankenstein, zumbis, etc”, citou em entrevista.
Em 1960, Evaldo se mudou para o Rio de Janeiro em busca de oportunidade profissional no campo do desenho, já que não via perspectivas no estado onde nasceu. No Rio, foi recebido por uma irmã que lá residia e conhecia um dos diretores do jornal O Globo, que, por sua vez, o indicou a Rio Gráfica e Editora (RGE), onde fez um teste e foi admitido como parte da equipe de desenhistas da editora.

“Em Natal, não tinha como me desenvolver artisticamente. Então, em 1960, reuni a cara e a coragem e parti para o Rio de Janeiro, ‘sem lenço e sem documento’. Uma irmã já morava no Rio e isso facilitou a minha estadia. Ela conhecia um dos diretores do jornal O Globo, que me indicou a Rio Gráfica, propriedade de Roberto Marinho. Passei no teste e logo fui admitido. Trabalhei durante 28 anos, desenhando e escrevendo roteiros de quadrinhos e ilustrando para várias revistas do gênero ‘romântico’ e ‘mistério'”, relatou.
Na época, a RGE publicava no Brasil uma diversificada linha de revistas que traziam famosos personagens das histórias em quadrinhos americanas. O nome de Evaldo passou a figurar em capas de diversas revistas como Brucutu, Príncipe Valente, Fantasma, Águia Negra, Cavaleiro Negro, Mandrake, Capitão Marvel e Flecha Ligeira, entre outras. Também na editora de Roberto Marinho, Evaldo desenhou para as revistas femininas Querida e Contos de Amor.
Apesar de ser reconhecido como um dos principais artistas dos quadrinhos de sua geração; em terras potiguares, contudo, o trabalho de Evaldo não repercutia como a realização de um conterrâneo. A situação só mudaria em 1968, quando Evaldo conheceu no Rio de Janeiro o jornalista e quadrinista potiguar Emanoel Amaral. Amaral à época era um adolescente aspirante a desenhista profissional e foi levado à RGE por Evaldo, onde conheceu os artistas e foi convidado a ingressar na empresa.
Impossibilitado de assumir em função de sua idade, Amaral voltou à capital do Rio Grande do Norte em 1970 e, no ano seguinte, organizou a 1ª Exposição Norteriograndense de Histórias em Quadrinhos, evento para o qual Evaldo colaborou cedendo artes originais. A mostra divulgou os artistas potiguares e resultou na fundação do Grupo de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos (Grupehq), agremiação que deu impulso à produção de HQs no RN.

Entre 1976 e 1977, o artista desenhou capas para a revista Kripta, publicação de terror de maior sucesso no mercado editorial brasileiro e que impulsionou a produção e publicação de HQs de terror no Brasil. O artista, colaborou com a editora Taika em revistas do mesmo gênero como: Almanaque do Drácula, Drácula, Clássicos de Terror e Seleções de Terror.
Porém, o trabalho que marcaria a carreira de Evaldo Oliveira no âmbito dos quadrinhos seria o Recruta Zero, personagem do cartunista Mort Walker, com o qual o potiguar trabalhou por 20 anos (de 1967 a 1987); tendo ilustrado e roteirizado muitas histórias do anti-herói cômico nesse período. O próprio Evaldo se referia ao personagem como seu ‘carro-chefe’.
“Por falta de material americano, fui incumbido de escrever e desenhar o Recruta Zero. Fato que durou 20 anos”, explicou.
Para a Editora Abril, escreveu roteiros para as revistas Urtigão, Jovem Radical e do apresentador Gugu. Para a Editora Bloch, fez capas de Spectreman, Drácula e desenhos e roteiros para Os Trapalhões; desenhou ainda capas para livros de bolso, além de roteiros e ilustrações de terror para várias editoras de São Paulo.
José Evaldo se aposentou do seu trabalho na RGE em 1987, encerrando o que considerava “a melhor fase de sua vida profissional”.

“Para mim, o período (60/87) em que vivi no Rio, foi o melhor, profissionalmente falando. Tive também o privilégio de viver a época dos ‘anos dourados’, época em que deu início ao movimento da ‘Jovem Guarda’. No Rio, tive contato com vários artistas famosos da área do desenho, tais como Ziraldo, Flávio Colin, Benício, Edmundo Rodrigues, Péricles (autor do Amigo da Onça), dentre outros”, apontou.
Após seu desligamento da editora de Roberto Marinho, Evaldo voltou a morar em Natal, onde trabalhou em várias agencias de publicidade entre o final da década de 80 e início dos anos 90. Nesse período, o artista se dedicou à criação de logotipos, ilustrações para campanhas publicitárias e storyboards. Nos quadrinhos, desenhou capas e histórias para revistas como Igapó, Ibiza e Carnaval in Rio.
Depois de sua fase na publicidade, o artista ministrou aulas de desenho, pintura e histórias em Quadrinhos na Universidade Potiguar (UnP) e a partir de 1997, passou a trabalhar como chargista no O Jornal de Hoje onde, durante dez anos, além das charges diárias, mantinha a coluna Histórias Fantáticas escrevia contos de suspense e horor. No periódico, o cartunista teve como colega de redação sua filha, a jornalista Luciana Oliveira.

Evaldo havia revelado que pretendia publicar um livro reunindo suas melhores charges, mas não houve tempo para que pudesse realizar esse desejo, pois viria a falecer em 16 de agosto de 2007, aos 68 anos, vítima de uma parada cardíaca.
Em abril de 2008, Evaldo foi reconhecido como mestre in memorian na cerimônia do Troféu Angelo Agostini, uma das mais tradicionais premiações de histórias em quadrinhos realizadas no Brasil.
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