Epopéia Potiguar: uma revista do Atelier Central

Epopéia Potiguar foi uma revista independente vinculada ao Atelier Central[1] e, por sua vez, ao Grupehq[2], Lançada em Natal, no mês de outubro de 1983. A publicação era predominantemente composta por histórias de aventura e ficção científica e teve quatro edições publicadas nos anos de 1983 e 1984, todas editadas por Carlos Alberto Oliveira (“Galego”), criador do herói Asa Pisquê, que cumpria o papel de principal atração da publicação.

Epopéia Potiguar publicou histórias de aventura, ficção científica e humor.

A primeira edição do impresso tinha formato de bolso, composta por 16 páginas, trazia as histórias A conquista, de Asa Pisquê; O causo de Sabina, estrelada pelo cangaceiro Labareda (Aucides Sales e Luiz Elson); além da história cômica Mankada, desenhada por Ubaldo, sobre um ladrão atrapalhado,  e algumas poesias. Um texto em uma das páginas finais do número enunciava “Este é o 1º lançamento da Epopeia Potiguar a qual estaremos todos os meses fazendo uma edição com os diversos personagens clássicos tais quais o desta edição: o Asa Pisquê e o Labareda e ainda outros como: Zanho, Cintilante, Auger, o cruzador e demais personagens. Pois, nós esperamos o agrado desta revista, leitor”.

“Era um desejo de infância, a publicação de uma revista em quadrinhos, e com a ajuda do Aucides Sales, eu pude realizar a impressão da Epopéia Potiguar”, declarou Carlos Alberto sobre a publicação. “Obviamente, eu pretendia uma edição nos formatos da época (meio ofício ou formatinho), mas devidos aos custos altos de gráfica, a solução foi o formato de bolso (1/4). A ideia inicial foi concebida para um segmento de aventuras, até então inédito na cidade, onde o Asa Pisquê (originário do grego que significa espírito/mente/alma), é um habitante do mundo astral que se materializa no nosso mundo através da energia ectoplasmática do jovem Alberto Silva, cujo cenário vivido é de uma Natal futurista do ano de 2150”, acrescenta.

Asa Pisquê

As edições de Epopéia Potiguar consolidam o personagem criado por Galego como figura central da revista, no entanto, o herói passa por uma transformação brusca de caracterização e ambientação. Em sua primeira aventura, Asa Pisquê aparece como o protetor de uma Natal futurista que sofre a ameaça de um pirata espacial que exige a entrega de sete pilhas atômicas em troca de sua partida pacifica. Não sendo atendido, o vilão envia robôs para atacar a cidade, entrando em confronto com o herói. A HQ tem um estilo de traço e narrativa com inspirações nas artes da Marvel da época, o herói inclusive tem um alter ego humano que serve de hospedeiro para a materialização de sua contraparte heroica.

Nos números seguintes, o herói é reapresentado como um líder indígena que, no ano 2500, defende o Brasil dos colonizadores europeus que, um milênio depois, tentam retomar o território brasileiro; em O rapto de Aracy, história divida em três partes, os conquistadores portugueses raptam a namorada do protagonista, no intuito de cobrar seu resgate em Pau-brasil. Asa Pisquê parte em busca de sua amada que era mantida refém no Forte dos Reis Magos e, através do plano astral, invoca amigos alienígenas para auxiliá-lo na batalha que se aproxima. Na conclusão do arco, Asa invade a fortaleza e seus aliados derrotam os raptores em batalha.

A mudança do personagem, que, no intervalo entre sua estreia e suas aventuras seguintes, se transforma de super-herói (nos moldes dos comics) para guerreiro Cariri, foi motivada por influencia de Aucides Sales, líder do Grupehq no período e que militava por histórias calcadas em temas regionais, em detrimento da inspiração na iconografia das HQs americanas.

Asa Pisquê e Condor Negro estampam a capa de Epopeia Potiguar nº 4.

Condor Negro e outras histórias

Outro personagem publicado em um arco de três capítulos foi Condor Negro, um aventureiro espacial com ar de anti-herói, com história e desenho de Márcio José (que atualmente assina como Marcio Coelho). Na trama de Muamba Real, após ser perseguido por piratas espaciais, o viajante Condor Negro e seu robô Broks são obrigados a fazer um pouso forçado em um planeta futurista distópico. Ao se dirigir aos habitantes do local, Condor é agredido, preso e tem seu companheiro de aventuras raptado pelo embaixador Ping, um tirano que exige que o protagonista entregue um conteúdo secreto que está guardado em sua nave, em troca do robô. Derrotado, o herói se alia ao alienígena Funcs e juntos conseguem derrotar o tirano e resgatar Broks.

Além das já citadas, os quatro volumes da revista traziam histórias curtas como O Riacho da Tapuia (Aucides Sales), O sabe-muito, Lobisomem, Ilusão e Magia Vital, (de Marcos Garcia) e tiras variadas como Os cangaceiros, Crop e Trik, o marciano.

O último número de Epopéia Potiguar conta com a participação especial da “estrela” dos quadrinhos nacionais Watson Portela, desenhista pernambucano que fica a cargo de ilustrar a capa da edição que encerrou a publicação.

[1] Atelier Central foi uma Escola de artes inaugurada em 1981. Localizada em Natal, o espaço foi responsável por formar uma geração de artistas e tinha em seu corpo docente vários membros do Grupehq.

[2] O Grupo de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos foi fundado em Natal em 1971, com o objetivo de divulgar e publicar Histórias em Quadrinhos produzidas por artistas potiguares.  O grupo foi responsável por editar as revistas Maturi e Igapó, além de promover exposições.

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